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MEUS PEQUENOS PÁSSAROS

  • Foto do escritor: Lilian Rocha
    Lilian Rocha
  • 22 de jul. de 2017
  • 2 min de leitura

Hoje resolvi fazer o que nunca mais havia feito. Deitei, escolhi uma bela canção e esperei por elas. Sabia que viriam. E vieram. Primeiro uma, depois outra e mais outra. Assim que chegaram, foram pousando ao meu lado, feito pássaros à procura de alimento. Preferi não me aproximar muito para não espantá-las. Gosto de vê-las se alimentando dos acordes dessa canção, devorando cada migalha sonora que encontram pelo ar. Fico olhando em silêncio a disputa nada amigável entre elas. Parecem tão ávidas!

E enquanto as observo de longe, meu pensamento voa, lembrando do que cada uma delas representa para mim. Conheço cada uma delas, sei a cor de suas penas, o peso dos seus corpos, o bater de suas asas. Conheço a música que cada uma sabe cantar. E elas não se importam de repetir, pra mim, sempre as mesmas histórias.

Se elas não fossem livres, talvez pudesse alimentá-las mais vezes. Construir pra elas uma gaiola dourada e ali deixá-las, para que eu pudesse vê-las, sempre que quisesse. Uma gaiola que abrigasse todas as minhas lembranças de uma só vez. E cada vez que estivesse me sentindo sozinha, elas poderiam me fazer companhia, cantando pra mim...

Não demora e logo afasto esse pensamento da minha cabeça. Já tive uma gaiola onde mantive muitos sonhos prisioneiros. E eles nunca cantaram para mim. Morreram todos, um por um, abortados pelo meu egoísmo, minha falta de coragem, assim como estão fadados a morrer todos os sonhos impossíveis.

Não tenho o direito de fazer isso com as minhas lembranças. Quero que continuem livres, pois sei que é por isso que elas cantam. E enquanto cantam, vão saciando a minha alma, preenchendo os espaços vazios que existem em mim...

Coloco mais uma vez a mesma música e enquanto a melodia suave se espalha pelo ar, elas agradecem, me bicando levemente as pontas dos dedos. Em pouco tempo, nenhum acorde será mais ouvido. No ar, restará apenas o barulho de suas asas, se preparando para partir.

Assim que minha última lembrança desaparece no espaço, eu me vejo só outra vez. Ouço, agora, apenas o som suave do silêncio no meu coração, como se fosse o vento soprando, levando embora a saudade que teima em me fazer companhia. Sinto um vazio imenso... E esvaziada de mim mesma, vou, aos poucos, retomando a vida. É hora de cultivar novas alegrias, descobrir novos motivos para me sentir feliz, pois sei que sorvendo a felicidade de cada instante, estarei nutrindo a minha saudade de amanhã...

 
 
 

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