UMA MULHER DE TODOS OS DIAS
- Lilian Rocha
- 8 de mar. de 2018
- 3 min de leitura
A mulher mais perfeita que eu conheci nada tinha de feminista. Nunca a vi brigar pelos direitos da mulher, nem ficar revoltada por coisa alguma. Nasceu num tempo em que quase nenhuma mulher trabalhava fora e, quando estava prestes a se casar, seu futuro marido "insinuou" que preferia que ela não trabalhasse depois de casada. Ela, então, com muito jeitinho, convenceu-o de que seria bom continuar trabalhando, pois “ninguém sabia o que poderia acontecer no futuro”. Ele, por sua vez, para não contrariá-la, aceitou a vontade dela.
Poucos meses depois de casados, ele perdeu o emprego e, graças ao emprego dela, ela sustentou sozinha o pequeno lar, por quase quatro meses. A partir daí, ele nunca mais duvidou da força e da coragem dela.
Moravam num quarto de pensão no RJ e toda a mobília se resumia a uma cama, um guarda-roupa, uma mesinha e algumas panelas. Durante o dia, ela saía para trabalhar e ele saía em busca de emprego. À noite, dentro do quarto, enquanto ele estudava para o concurso do Banco do Brasil, ela fazia doce de leite e outros mimos para ele, no fogareiro, pois não possuíam fogão. E o fazia não por sacrifício, mas por puro prazer de agradar ao marido.
Ele passou no concurso e ela continuou trabalhando. Os filhos foram chegando e eles decidiram voltar para Aracaju, por ser uma cidade menor e mais fácil de criar os filhos. Mas ela continuou trabalhando e agora bem mais que antes, nos dois expedientes. Teve seis filhos e em todas as gravidezes, ela trabalhou até o dia de ter criança. Quando ainda não tinham carro e as dores começavam, ela avisava a ele, e os dois iam caminhando, da praça Fausto Cardoso, onde ela trabalhava, até a maternidade, no Hospital Cirurgia, onde quase todos os filhos nasceram, das mãos firmes e competentes do Dr. Hugo Gurgel. De quando em quando paravam, por causa das contrações. Só de pensar nessa caminhada, sinto um frio na espinha...
Durante o longo tempo em que viveram juntos, dividiram tudo: despesas, dificuldades, problemas, alegrias, turbulências e preocupações. Eram diferentes em tudo, principalmente nos gostos. Mas se completavam em tudo. Eram cúmplices apaixonados, que se entendiam com o olhar. Ela era extremamente meiga e delicada, falava baixinho e sorria sempre, de tudo. Mas tinha uma coragem descomunal, especialmente diante da morte. Foi cantando, serenamente, que ela se despediu de cada um de seus irmãos e foi cantando também, que anos mais tarde, ela deu adeus a seu filho e a seu neto.
Sempre que chega o Dia Internacional da Mulher, eu penso em minha mãe. Ela nunca foi feminista, mas foi a mais forte de todas as mulheres que conheci. Nunca lutou pelos seus direitos, mas todos sempre a respeitaram. Criou e educou 6 filhos, mesmo trabalhando dois expedientes. E nunca precisou levantar a voz, para que nós lhe obedecêssemos. Quando disse “sim” a meu pai, aos 22 anos, fez valer a sua palavra por 66 anos, tendo como base, apenas, respeito, compreensão e amor.
É a ela que quero homenagear hoje. Um exemplo de mulher doce, forte e generosa. Que calava, quando se queria fazer ouvir; que cedia, quando queria mudança; que trabalhava incessantemente pela paz, ouvindo, compreendendo, perdoando, conciliando e esquecendo. Meu modelo mais perfeito de mãe, de esposa, de nora, de irmã, de cunhada, de avó. E o pedaço arrancado do coração de meu pai...
Se há uma mulher que merece os parabéns hoje, certamente é você, mãe! Obrigada por tudo, especialmente por continuar sendo para mim essa saudade boa que gosto de sentir...

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