top of page

O SOPRO DA ESTRELA

  • Foto do escritor: Lilian Rocha
    Lilian Rocha
  • 23 de jul. de 2018
  • 4 min de leitura

Uma vez, quando eu tinha 16 anos, ganhei uma estrela de presente. Sim, uma estrela de verdade, de um menino de 15 anos, americano, que se apaixonou por mim. Era uma estrela diferente, que mudava de cor constantemente. Muito bonita. E foi justamente porque ela era a mais bonita, que ele me deu de presente. E embora ela more no céu, ao lado de milhões e milhões de outras estrelas, sei que ela é “minha”. Às vezes olho para o céu, distraída, e sem querer, avisto a minha estrela. E como se percebesse que eu estou olhando pra ela, ela se faz ainda mais bonita para mim. Se veste de verde, depois de amarelo, azul, vermelha... E brilha, brilha, a mais não poder... E eu sorrio, orgulhosa do meu presente, pois sei que são muito raras as pessoas que são capazes de ganhar um presente tão original!

Hoje ganhei outro presente, igualmente raro e valioso: um solo de gaita. Mas não foi um solo de gaita qualquer, e sim, como ele mesmo disse, “o melhor solo de gaita que ele gostaria de fazer em sua vida.” Sei que existem por aí milhões e milhões de solos de gaita reverberando pelo universo e chegando aos nossos ouvidos como sopros de vida, de amor, de alegria. Mas somente a mim pertence o solo mais bonito do mundo: "um solo de gratidão".

A partir de hoje, esteja onde estiver, sempre que eu ouvir o som de uma gaita, vou me lembrar orgulhosa desse meu presente, que me calou fundo a alma. Pois sei que são muito raras as pessoas capazes de dar um presente tão original, um presente que ninguém mais possui. É preciso ter sensibilidade. É preciso ser, antes de tudo, uma estrela.

Esse solo de gaita me fez lembrar a minha estrela. Dois presentes valiosos e impalpáveis, diferentes de tudo o que já ganhei na minha vida, e que ficarão guardados pra sempre nas minhas lembranças e na minha saudade.

Obrigada, Julio Rego, por ter conseguido preservar, no homem maduro em que você se tornou, o mesmo menino doce e sensível que eu conheci um dia e a quem eu tanto desejei encontrar. Adorei o meu presente!! <3 Receba o meu abraço mais carinhoso!

PS: Segue, abaixo, a resposta de Julinho, ao texto que escrevi ontem, chamado "41 anos depois". A resposta dele foi tão bonita, mas tão bonita, que pra agradecer, acabei escrevendo outro texto... :) -------------------------------------------------------------------------------------- Julio Rego - Professora Lilian Rocha. Eu lembro da senhora, claro, e com muito carinho!

Ah, permita-me lhe chamar de ¨senhora¨ aqui neste momento de recordação, ainda que nossa diferença de idade nem seja tão grande assim hoje em dia, pois era desta maneira que nós, alunos, habituávamo-nos a falar com qualquer professor. Aliás, recordo-me também, a senhora me chamava atenção por ser bem mais jovem do que a maioria dos professores que costumávamos ter. E é claro também que meu gosto por escrita naquela época era uma reverberação das suas aulas.

Sim, isso foi há 41 anos no Instituto Sagrado Coração de Jesus. Que tempo bom!

Agora, imagine a senhora que naquele dia eu estava em um momento cercado de amigos, de músicos, de familiares, de pessoas conhecidas e desconhecidas que se deslocaram até aquele lugar para ver e ouvir eu e meus parceiros de instrumento fazermos algo que me é tão sagrado: tocar gaita.

Em um certo momento minha mãe ao seu lado me avisou da sua presença. Sai da mesa do evento que estava organizando, fui até lá, trocamos um abraço e umas poucas palavras. Algumas fotos de nós dois foram tiradas e logo retornei ao lugar onde estava. Realmente não imaginava que a senhora fosse comparecer e não pude lhe dar tanta atenção.

Acontece que ontem quando lí o seu texto cheguei a achar que nunca mais iria ter fôlego para tocar gaita!

Perdão pelo justo exagero acima, o fato é que resolvi parar, respirar um pouco e desgustar calmamente a emoção diante de tamanha beleza.

Professora, talvez hoje a minha caligrafia já não possa ser classificada como uma das ¨mais fáceis¨. É que com o tempo fui sendo ¨abduzido¨ pelas teclas e tecnologias digitais. Além disso, hoje eu escrevo mais com o meu sopro e capricho mais a modelagem das minhas notas musicais.

Entretanto, tenha certeza de que verdadeiros mestres são aqueles que fazem a gente querer sempre ¨melhorar a letra¨. É o tipo de coisa que toca, que fica e que constrói a gente. Ter ¨o caderno (ou a gaita) em cima da pilha¨ nada mais é do que o reconhecimento de que a sagrada missão de educar e transformar pessoas está no caminho certo. E a senhora continua fazendo isso com maestria irretocável com a arte da escrita. Basta ler aqui os comentários de sua bela postagem.

Meu sentimento é de total agradecimento pela sua presença, pelas suas memórias, pelo seu gesto, pelo reencontro, por essa emoção, pelo seu incrível texto, por ter tido ¨duas mães¨ sentadas numa mesma mesa apreciando a minha arte.

Retribuo os aplausos e orgulho para a senhora como se fosse o melhor solo de gaita que eu fosse capaz fazer em minha vida.

Muito obrigado!

 
 
 

Comments


RECENT POSTS
SEARCH BY TAGS
ARCHIVE
bottom of page