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À NOSSA LEOA

  • Foto do escritor: Lilian Rocha
    Lilian Rocha
  • 10 de ago. de 2018
  • 3 min de leitura

Nós sempre fomos diferentes em tudo, como quase todos os irmãos mais próximos. Ela sempre foi muito arrumada e eu, bagunçada; ela era vaidosa, gostava de sapato alto, enquanto eu só saía de sandália baixinha; ela era cobra em Química e eu, vivia de segunda época, justamente em Química!

Quando voltávamos da praia com meu pai, ela era sempre a primeira a entrar no banheiro pra tomar banho, porque ela sempre se lembrava primeiro de dizer isso, quando voltávamos da praia: "Primeira a tomar banho!" Como eu tinha raiva! Um dia, planejei dizer isso antes de chegarmos à praia, pra ver se ganhava dela, mas assim que entramos no carro, ela gritou: "Primeira a tomar banho!" Nossa, parecia que ela lia meus pensamentos... E depois que tomávamos banho, ela se deitava no sofá da sala, jogava o cabelo enorme pra trás e dizia: "Lilian, desembarace meu cabelo..." E lá ia eu, com o pente na mão, fazer o que ela me pedia...

Outra lembrança bem marcante que tenho dela era nas comemorações de família. Quando estávamos todos reunidos, ela costumava olhar em volta e dizia: "Tá todo mundo aqui, só falta... " E imediatamente dizia o nome da pessoa ausente. Ela nunca se esquecia de ninguém.

E assim fomos crescendo, dividindo o mesmo quarto e convivendo com as nossas diferenças cada vez maiores... Um dia, arranjei um namorado elegante, que gostava de mulher mais arrumada. E foi a ela que eu recorri: "Denise, pelo amor de Deus, me empreste uma roupa e uma sandália alta, pois preciso impressionar alguém..." Mas eu jamais consegui ser igual a ela... No carnaval do Iate, por exemplo, íamos as duas fantasiadas, mas na primeira meia hora, eu já tinha tirado o sapato, o enfeite da cabeça já tinha caído, enfim, enquanto tudo em mim ia se despencando, Denise continuava impecável, com todas as fitas, balangandãs e lantejoulas de quando tinha chegado... Era impressionante!

Mas apesar das nossas diferenças, sempre soubemos que podíamos contar uma com a outra. E ela nunca deixou de demonstrar essa sua generosidade. Quando ela teve o primeiro filho, foi a mim que ela escolheu para ser madrinha. Quando as coisas às vezes não davam certo pra ela, era a mim que ela procurava pra conversar. Quando meu irmão estava se despedindo da vida, foi na minha força que ela repousou sua fraqueza. E quando a gente pensava que ela não ia aguentar os trancos da vida, Denise ressurgia, forte e corajosa, mostrando ao mundo que era capaz de dar a volta por cima.

Foram muitas e muitas vezes que a vi dando a volta por cima, segurando as rédeas de sua vida e traçando o seu próprio destino. E sempre que eu precisei, lá estava ela, como uma leoa, me defendendo, brigando por mim, me querendo bem. Pois pra ela, a família sempre esteve em primeiro lugar.

Feliz aniversário, minha irmã! Obrigada por tantas e tantas demonstrações de carinho. Hoje estaremos juntas na sua casa para celebrar o seu dia. Sei que você olhará em volta e depois de conferir mentalmente quantos somos hoje, vai repetir em silêncio a sua frase preferida: "Tá todo mundo aqui, só falta..."

É, Denise, dessa vez tá faltando muita gente, sim. Mas juntas, haveremos de dar a volta por cima outra vez e fazer de conta que a alegria também se faz na saudade...

 
 
 

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