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“JUST DO IT” (Apenas faça)

  • Foto do escritor: Lilian Rocha
    Lilian Rocha
  • 16 de nov. de 2017
  • 4 min de leitura

Há cerca de duas semanas, mais ou menos, estive às voltas com a correção de algumas monografias. É uma tarefa árdua, sem dúvida, mas o trabalho termina valendo a pena, pois acabo entrando de cabeça na história e aprendendo coisas muito interessantes. Mas não fica só nisso. Eu me sinto tão arrebatada pelas histórias que acabo indo muito além do que devo...

Certa vez, corrigi uma monografia do curso de Ciências Sociais que falava sobre uma cooperativa de artesanato situada num povoado perto de Pirambu. Dentre outras coisas, a aluna descrevia o envolvimento dos habitantes do povoado com o artesanato e dava exemplos de tudo o que se podia comprar lá, a preço de banana...

Pronto, foi o bastante. Cismei que queria ir lá conhecer o lugar, ver as pessoas trabalhando e quem sabe até, comprar algumas peças. Nessa hora, só sobra pro meu marido, pois é a única criatura vivente neste mundo que topa esse tipo de coisa... Escolhi uma tarde de sábado para irmos até lá. Falei pra ele que, de acordo com a monografia, era ‘perto’ de Pirambu. Ora, considerando que Sergipe é pequeno e Pirambu é perto, o tal povoado não devia ser mesmo longe... E assim fomos nós. Saímos de casa por volta das 3h e em pouco tempo, estávamos em Pirambu. Pedimos informação sobre o povoado e todas as pessoas, quando indicavam a direção, franziam a testa pra gente dizendo: “Mas é um pouco longe...” Hum... longe? Longe é brincadeira. Longe é ‘um lugar que existe’. Aquele lugar não parecia constar de mapa nenhum... A estrada era horrível, de barro, bem estreitinha, cheia de buracos e curvas. Não passava um carro sequer e muito menos gente. Comecei a ficar com medo. Se acontecesse alguma coisa com o carro, íamos ficar em pior situação que na história de João e Maria... Olhei pra meu marido e como quem não quer nada, disse pra ele que eu tinha desistido, era melhor a gente voltar, pois estava escurecendo. E ele prontamente: “Voltar??! Depois que a gente andou isso tudo? Não, agora você vai até lá!” Nessas horas, é melhor nem discutir. Eu que tinha inventado aquele belíssimo programa, tinha mais era que ficar calada, encolhida no meu medo e principalmente, na minha culpa...

Mais de 2 horas depois de Pirambu foi que conseguimos chegar. Para minha surpresa, a cooperativa estava fechada, pois era sábado, e todos os habitantes estavam aproveitando para descansar, pois tinham terminado de atender a uma encomenda gigantesca. Não vi absolutamente nada do que eu tinha lido na monografia e pra não voltar de mãos vazias, comprei um chapéu de praia e vim caladinha, aguentando firme as gozações do meu marido... Coitado, ele é mesmo um santo!

Mas assim é a minha cabeça. Não sou muito de pensar antes de fazer. ‘Simplesmente faço’, movida pela minha espontaneidade, minha ideologia e, principalmente, por meus sentimentos. Uma das monografias que corrigi desta vez foi de uma aluna de Publicidade, que no final fazia um estudo de caso sobre a Nike. Aprendi tudo sobre a Nike e nem precisa dizer que me apaixonei imediatamente por Bill Bowerman e suas invenções malucas. Na tentativa de criar um tênis que melhorasse a performance do atleta, ele chegou a derramar borracha na máquina de waffles de sua casa, conseguindo, assim, um solado mais leve e ondulado. Adoro gente assim. Que inventa. Que acredita em si mesmo e simplesmente faz, sem ficar perdendo tempo pensando. É esse o lema da Nike. “Simplesmente faça”. Mesmo que ninguém acredite, mesmo que a estrada escolhida seja tortuosa e cheia de buracos e aparentemente não leve a lugar nenhum...

Na semana passada, recebi um convite inusitado de uma escola, para batizar com o meu nome a biblioteca que ia ser inaugurada lá. Não conhecia a diretora, nem muito menos a escola, mas é claro que topei na hora. A escolinha é municipal e fica num povoado de São Cristóvão, logo atrás de uma igrejinha. É pequeninha, mas muito aconchegante. A diretora, Christina Aragão, tinha preparado tudo para a inauguração com o maior capricho. Além da biblioteca, seria inaugurada também uma sala de recursos humanos, em homenagem a uma professora já falecida, pelo seu longo e belo trabalho dedicado em prol das crianças especiais. Não faltou nada na inauguração. Teve vídeo, seleção musical da melhor qualidade, discurso, fita verde e amarela na entrada da porta e até flores.

“Minha biblioteca” é linda; cheia de livros, brinquedos e fantoches, capaz de encantar qualquer criança. Tem até uma placa com meu nome e um quadro com minha foto. Quando agradeci, dizendo que era uma coragem muito grande dela de inaugurar uma biblioteca num país onde a maioria das pessoas não gosta de ler, ela me respondeu: “Mas aqui a gente tem um projeto de leitura muito bom. Os livros são disputados pelas crianças e pelos pais e são surrados de tanto que são lidos. Foi por isso que a gente resolveu inaugurar uma biblioteca.”

Fiquei comovida pela homenagem. Não só por ter sido escolhida por pessoas que nem me conheciam, mas sobretudo, por estar batizando com o meu nome muito mais que uma biblioteca, mas um projeto de leitura vitorioso, o sonho de uma professora que acredita em si mesma e “simplesmente faz”...

Ao ver aquela escola tão pequenina, realizando, com a ajuda de toda a comunidade, um sonho em comum, lembrei que o caminho que nos leva ao sucesso é realmente tortuoso e cheio de buracos e que o reconhecimento vem de onde a gente menos espera... Às vezes, ficamos com medo e temos vontade de desistir. Mas o sonho de fazer tem que acabar prevalecendo. Mesmo que a gente só tenha em mãos uma máquina de waffle, um pequeno espaço atrás de uma igrejinha ou um minuto para falar, o lema é bastante simples: “apenas faça”... E deixe que Ele "faça em nós, segundo a vossa vontade"... (Lilian Rocha – 10.12.13)


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