BYE, BYE, WILKER

O filme estava passando no cine Vitória e a próxima sessão começava às 4h. Naquele tempo, as sessões de cinema eram contínuas, por isso, se a gente chegasse um pouco atrasada, não tinha problema, pois podíamos entrar no meio do filme e assistir ao começo da outra sessão. Foi isso o que fizemos naquela tarde. Escapulimos do colégio no meio da tarde e rumamos em direção ao cine Vitória, que ficava no final da rua Itabaianinha, com o mesmo objetivo: ver “Dona Flor e seus dois maridos”, o filme mais badalado do momento. Éramos quatro meninas, todas suspirando por ‘Vadinho’, o personagem de José Wilker, que roubava todas as cenas, com sua voz rouca e jeito moleque e divertido. Mas houve uma cena, em particular, que me marcou pra sempre naquele filme. Era a cena da morte de Vadinho. Não da morte em si, mas da reação de ‘Dona Flor’ (Sônia Braga) diante da morte dele. Ela entrava em casa, fechava todas as janelas e se entregava inteiramente àquela mistura de dor e saudade, ao mesmo tempo. E enquanto ela chorava, as cenas dos dois iam passando de novo na tela, feito lembranças que a gente teima em não querer deixar partir... E ao fundo, a voz de Simone ia surgindo, suave e sofrida, emprestando ainda mais sofrimento à dor de ‘Dona Flor’... No dia seguinte, fui novamente ao cinema ver o mesmo filme. E no outro dia, fui outra vez. Só pra ver a mesma cena, pra ouvir a mesma música, pra sentir a mesma dor...

Durante anos, essa música foi sinônimo de saudade pra mim. De uma saudade doída, dessas “que dá dentro da gente que não devia”... E é com essa mesma saudade doída que me despeço hoje de José Wilker e de todos os seus personagens inesquecíveis. Fechando todas as minhas janelas e me deixando ficar assim, encolhida e assustada, diante da efemeridade da vida... Tentando entender "o que não tem descanso, nem nunca terá, o que não tem cansaço, nem nunca terá, o que não tem juízo...” (Lilian Rocha – 05.04.14) https://www.youtube.com/watch…

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