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#PARTIULINGUAPORTUGUESA

  • Foto do escritor: Lilian Rocha
    Lilian Rocha
  • 16 de nov. de 2017
  • 3 min de leitura

Esta semana, enquanto esperava minha filha abastecer o carro, um cartaz me chamou à atenção: “#partiuverão”. Franzi a testa e li de novo. Não havia dúvida, era aquilo mesmo. Tentei trazer à tona todos os conhecimentos de português que eu havia adquirido ao longo da minha vida. Pelo jeito da frase – se é que se podia chamar aquilo de frase, já que ali estavam duas palavrasjuntas, que juntas não formavam nada com nada, pois não há uma palavra no dicionário chamada ‘partiuverão’... É, já vi que por ali eu não ia chegar a lugar nenhum... Resolvi, então, ‘partir’ a partir do verbo ‘partir’. Afinal, os verbos numa frase são sempre as palavras mais significativas que existem. Tão significativas que sem eles, não há oração, foi assim que eu aprendi. Então, se ali havia um verbo, era sinal de que ali era uma oração! Bom sinal!! Mas que tipo de verbo era aquele? Bom, que eu saiba, o verbo ‘partir’ tem dois significados: pode ser ‘cortar’, ou então, ‘ir embora’. Resolvi experimentar o primeiro. Se ‘partir’ tivesse o sentido de ‘cortar’ então... alguém estava querendo 'cortar o verão', porque ‘quem parte, parte alguma coisa’! Aquele verbo era 'transitivo direto', não havia dúvida! E se era 'transitivo direto', tinha que ter um 'objeto direto', lógico! E se quem parte, parte alguma coisa, lógico que o objeto a ser partido só podia ser... o verão! Mas QUEM, meu Deus? Que tipo de 'sujeito' seria capaz de cortar o pobre verão? 'Simples'? 'Oculto'? Ou 'indeterminado'? 'Simples' não era, porque não tinha nenhuma palavra que o identificasse; 'indeterminado' também não, porque nem o verbo estava na 3ª pessoa do plural nem havia ali nenhum sinal de ‘partícula apassivadora’. Olhei a terminação do verbo - 3ª pessoa do singular. Ah, aquele sujeitinho só podia ser 'oculto', logo vi!! Mas com que intenção um 'sujeito oculto' se atreveria a fazer aquilo? E ‘partir’ de que maneira? Em pedaços? É, vai ver que aquele 'sujeito oculto' estava achando o verão muito quente e teve a brilhante ideia de parti-lo em 3 pedaços, um pra cada estação. Até que não seria uma má ideia, pois o outono e o inverno ficariam mais quentinhos... Mas...e a primavera? Ficaria mais quente ou mais fria? Calma, Lilian, você já está indo longe demais, acorde! Ninguém está querendo partir nada, muito menos o verão... Bom, então se o sentido daquele maldito verbo não era ‘cortar’, então só podia ser o outro: ‘ir embora’. Tornei a ler: #partiuverão. Mas... se estávamos em pleno verão, como o verão poderia já 'ter partido'? Não, alguma coisa estava errada... Será que aquele cartaz era do ano passado? Mas como alguém deixaria um cartaz tão velho na entrada de uma padaria? A essa altura, minha cabeça já estava dando um nó. Eu estava lendo uma frase que não era frase, iniciada por um símbolo esquisito e formada por um verbo que não obedecia a nenhum significado que eu conhecia... Resolvi, então, entregar os pontos e pedir ajuda à minha filha. Pacientemente, ela me explicou que aquilo era um ‘hashtag’ (então seria ele o 'sujeito oculto'?!) e que ‘partiuverão’ era o mesmo que ‘partiu para o verão’ ou ainda ‘fui para o verão’, ou seja, significa que está começando o verão, entendeu, minha mãe?” Balancei a cabeça, fingindo ter entendido, mas confesso que fiquei ainda mais confusa. Agora a gente deve usar o passado (partiu) para indicar uma ação que está acontecendo ou que ainda vai acontecer. De modo que o velho ‘pretérito perfeito’ do meu tempo hoje pode ser ‘gerúndio’ ou 'futuro do presente'...?! Decididamente, estou destruída. E o que é pior: por um sujeitinho oculto que atende pelo nome de ‘hashtag’... #sesentindoarrasada (Lilian Rocha - 25.01.14)


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