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AO PÉ DO OUVIDO...

  • Foto do escritor: Lilian Rocha
    Lilian Rocha
  • 17 de nov. de 2017
  • 1 min de leitura

Quem não a conheceu ainda, é só uma questão de tempo, pois mais dia ou menos dia, ela aparece, porque sua principal característica é justamente essa: se intrometer em relacionamentos antigos e felizes e ir, pouco a pouco, minando a relação.

O começo é sempre o mesmo: ela vai se aproximando de mansinho, discretamente, e sem ninguém perceber, fica com aquela conversinha miúda ao pé do ouvido. A princípio, a gente pensa que isso é passageiro e o melhor a fazer é não dar muita atenção. Mas ela é persistente, sabe que possui todos os atributos pra ganhar qualquer parada. E no dia seguinte, como era de se esperar, lá está ela de volta, sem a menor cerimônia...

E assim ela vai se apossando de tudo o que era seu. Primeiro, toma o seu ouvido, depois sua concentração, sua paciência, até você perder completamente a cabeça. Nada mais lhe interessa. Festas, conversas, programas de TV, reuniões familiares, tudo agora lhe parece terrivelmente irritante. Seu único desejo é ficar só com a sua dor...

Então você começa a refletir: “Onde foi que eu errei? Em que momento me descuidei do meu ouvido médio e deixei-o só com aquela bactéria oportunista?” Mas nada mais tem sentido. Tudo acabou. Seu ouvido está completamente envolvido por aquela otite desqualificada...

E completamente tomada pela dor, ela resolve dar fim àquele sofrimento. Se seu ouvido não pode voltar a ser só seu outra vez, também não será de mais ninguém. Olha para o lado, agarra o vidrinho de Otosynalar e de olhos fechados, derrama-o inteiro dentro do ouvido. Pronto. Que sua trompa de Eustáquio agora descanse em paz.

(Lilian Rocha - 25.06.14)


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