"FELIZ ANIVERSÁRIO, PAPAI
- Lilian Rocha
- 17 de nov. de 2017
- 3 min de leitura
Sempre tive vontade de ter filhos. Muitos. Sonhava tanto com isso que quando tinha uns 13 anos, recortei um monte de fotos de bebês e colei num caderno. Depois escolhi um nome pra cada bebê, imaginando que algum dia eu teria os meus próprios bebês e os batizaria com aqueles nomes escolhidos. Também adorava brincar de grávida. Certa vez, no auge da minha adolescência, coloquei uma almofada na barriga e saí desfilando pelos corredores do colégio, feito uma pata, dizendo a todo mundo que eu estava prestes a ter neném.
E de tanto que eu sonhei e desejei, finalmente esse sonho se tornou realidade. Aos 15 dias de casada, senti que estava grávida. Muito antes de fazer exame, muito antes de ir ao médico. E me senti a mulher mais feliz do mundo. Comprei livros sobre gravidez, estudei as transformações que iam ocorrer no meu corpo, aprendi a fazer crochê pra fazer as bainhas das fraldas, enfim, fui mãe em tempo integral. De corpo e de espírito. E quando ele nasceu, me senti a mãe mais feliz do mundo...
Quando Felipe fez 9 meses, senti que estava grávida de novo, dessa vez de uma menina. Muito antes de fazer exame, muito antes de ir ao médico. E dei a ela o nome de Júlia. E quando ela nasceu, me senti, de novo, a mãe mais feliz do mundo...
Quando Júlia completou 1 ano, fiquei grávida de novo. E como sabia que ia ser outra menina, muito antes de fazer exame, muito antes de ir ao médico, dei a ela o nome de Letícia. Assim que o médico confirmou a gravidez, me aconselhou a ligar as trompas depois do parto, já que aquela seria a minha terceira cesariana. Mas eu não queria ligar as trompas, queria mais filhos. Para sair desse impasse, resolvi trocar de médico e ele logo me acalmou, dizendo que já tinha feito até quatro cesárias. Mas Letícia escolheu vir diferente, veio de parto normal. E mais uma vez, eu me senti a mãe mais feliz do mundo...
Quando Letícia estava com dois anos, ganhamos de presente uma viagem. E pela primeira vez, depois de casados, viajamos sozinhos, em clima de lua de mel. Mas não voltamos “sozinhos”. Voltamos com Gustavo que, silenciosamente, começara a se formar dentro de mim. E foi também inesperadamente que ele nasceu. Quinze dias antes da previsão. E quinze dias antes do previsto, ele me fez, novamente, a mãe mais feliz do mundo...
Depois dos meus quatro filhos, julguei que não teria mais. Um dia, porém, quando Gustavo estava com dois anos, senti alguma coisa diferente dentro de mim. Não acreditava que era outro neném, mas ao mesmo tempo, torcia que fosse. Torcia que ele ficasse. E ele ficou. No dia 5 de dezembro, na véspera do aniversário de meu marido, comecei a sentir as dores. Imediatamente, comecei a me arrumar para ir à maternidade, pois como aquele seria o meu quinto parto, era melhor não demorar. E entre uma contração e outra, cheguei ao destino. Foi aí que tudo deu pra trás. As contrações começaram a ficar bem espaçadas e nós entramos pela noite adentro, esperando. À meia-noite, o médico entrou no nosso quarto e disse: “Vamos! Ele só estava esperando o aniversário do pai pra nascer.” E dizendo isso, me levou pra sala de parto, onde me aplicou uma injeção para induzir o parto. Cinquenta minutos depois, nascia Victor, também de parto normal. Para brincar com a coincidência da data, enrolei um laço de presente em volta do bebê, escrevi num cartão “Feliz aniversário, papai!” e dei-o de presente a meu marido.
Relembrando, hoje, esses momentos, tenho certeza de que de todas as emoções que já vivi, nenhuma se compara à emoção de ter um filho. Por cinco vezes, senti essa emoção, mas cada uma delas foi como se fosse a primeira.
Embora tão parecidos, os vocábulos “parto” e “partir” possuem raízes e significados bem distintos. Enquanto “parto” significa “dar à luz”, “partir” nada mais é que “dividir em partes, separar, afastar-se”. Mas pra mim, uma ideia não existe sem a outra. Para que eu dê à luz a alguém, é preciso, antes, me deixar “partir” por dentro, me desfazer de parte de mim mesma, a fim de criar mais espaço para o que está por vir...
Assim é o amor de mãe. A capacidade de se repartir em inúmeros pedaços, transformando a dor em alegria, a escuridão em luz, o que era 1 em 2. E quanto mais nos repartimos, mais inteiros nos descobrimos, pois já não somos nós quem vivemos para os filhos, são eles que vivem em nós...
(Ao meu filho Victor, que há 22 anos continua me fazendo a mãe mais feliz do mundo!) Lilian Rocha – 05.12.15)

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