MARI E MANO
- Lilian Rocha
- 17 de nov. de 2017
- 5 min de leitura
Sempre gostei de casamentos. Era um dos grandes sonhos da minha vida. Sonhava em me casar lá no alto, na Igreja do Santo Antônio, o lugar mais bonito de Aracaju. Mas, quando arranjei o noivo, que era viúvo, descobri que o primeiro casamento dele havia sido justamente ali. Por isso, desisti. Numa cidade pequena como Aracaju, fatalmente os convidados iam ficar comparando os dois casamentos e isso não seria muito agradável. Resolvi, então, escolher outro lugar para me casar, que fosse diferente de tudo. Foi quando uma grande amiga minha me ofereceu a casa de praia dela, recém-construída, que ficava na praia do Robalo. Aceitei na hora e passei a imaginar como seria bonito casar ao ar livre, na varanda de uma casa de praia, tendo o mar ao fundo...
Vendo isso assim, hoje, parece que foi uma coisa bastante simples. Mas em 1983, a Rodovia José Sarney não havia sido construída ainda. Portanto, todo o acesso até lá era feito pela Rodovia dos Náufragos, a rua de trás, que dá no Mosqueiro, que naquele tempo, era bem deserta, sem nenhum desses belos condomínios de hoje. Aproximadamente, na altura do Clube da Telergipe - que também não existia - a gente entrava por um caminhozinho estreito, tortuoso e cheio de buracos e ia rezando para que o carro não quebrasse... Mas nem esses obstáculos me fizeram desistir da ideia. Apesar do caminho difícil, a casa valia a pena.
E assim, comecei a preparar tudo em tempo recorde, já que o pedido de casamento me foi feito com apenas um mês de namoro e o casamento marcado para dois meses depois. Como meu noivo morava em Recife, tive que cuidar de toda a papelada sozinha, tanto para o casamento civil como para o religioso. E como tudo precisava da assinatura dele (e ainda não haviam inventado a internet!), eu enviava os documentos pelo correio e esperava ele me reenviar, devidamente assinados. Enquanto isso, tratava de providenciar vestido, sapato, padre, fotógrafo, música e não sei mais o quê. E como também não havia ainda essa história de cerimonial, a gente tinha que se virar sozinha...
E se o casamento ia ser 'diferente', é claro que o vestido não podia ser tradicional... Faltando um mês, minha mãe me perguntou: “E o vestido?” Imediatamente respondi: “Esse fim de semana vai ter um desfile de moda. E é nesse desfile que eu vou encontrar meu vestido!" E não deu outra! Depois de ver todos os lançamentos, aguardei a coleção de vestidos de noiva, que sempre ficava para o final. Quando a penúltima modelo entrou, trajando um conjunto de saia e blusa brancas, e na cabeça, um chapeuzinho redondo, eu disse a minha mãe: “É esse o "meu vestido", é assim que quero me casar.”
Na segunda-feira, corri com minha mãe até a boutique, para comprar o vestido, antes que alguém o fizesse. A proprietária riu, pois aquele não era, propriamente, um "vestido de noiva". Na verdade, ela havia se utilizado de dois conjuntos para criar um vestido de noiva estilizado. Por isso, para levar aquela saia, eu tinha que levar a blusa; e para levar aquela blusa, eu tinha que levar a calça. Comprei os dois conjuntos e o chapéu e saí feliz da vida. Na volta para casa, vi um sapato branco numa vitrine, esperando por mim. Pronto, agora eu já estava pronta para me casar.
Como não havia tempo para mandar fazer convites, convidei os amigos pelo telefone mesmo e os parentes que moravam fora, eu escrevi uma carta para cada um. A decoração ficou por conta de Hortênsia Machado, nossa vizinha, que não se conformava quando eu dizia que não precisava de nada. Ela, então, providenciou não sei quantos vasos de plantas, flores, além de mesas, cadeiras e um toldo para abrigar o Grupo de Jovens Focolares que, gentilmente, aceitou o meu convite para cantar no casamento. Imaginem, agora, levar e trazer tudo isso de volta, por aquele caminhozinho estreito, tortuoso e cheio de buracos...
No dia marcado, às 10h, saí da sala da casa de braço dado com meu pai, até a varanda, onde Pe. Luís Lemper nos aguardava, juntamente com todos os convidados. Depois disso, não me lembro de mais nada. Só da emoção que tomou conta de mim e da sensação de ter me tornado a mulher mais feliz do mundo...
Quase 32 anos já se passaram depois desse dia. Já vi muitos outros casamentos lindos e diferentes, mas mesmo assim, ainda continuo me emocionando. Mas o casamento de ontem foi diferente de todos que eu já vi. O local escolhido foi uma singela capela, localizada no bairro Inácio Barbosa, onde moram os noivos, Germano e Mariana. Eles já dividem o mesmo espaço há dois anos, juntamente com Julinha, a filha de Mariana, que há dois anos, passou a ser também, para todos nós, a "Julinha de Germano". Um casamento, portanto, que já começou diferente. Diferente também foi o local, pois como não ia caber todo mundo na capela, o altar foi montado na frente da capelinha e, portanto, ao ar livre. Diferente também foi o diácono que celebrou a cerimônia. Em vez de simplesmente repetir aqueles ritos religiosos, tão conhecidos por todos nós, ele falou doce e profundamente, para a alma de cada um de nós. Diferente também foi a música. Em vez de canções religiosas, as músicas escolhidas foram todas dos Beatles. Canções que falam de amor, interpretadas divinamente por Arthur Matos, um cantor sergipano, talentosíssimo. E ele arrebatou de vez nosso coração, quando vimos Julinha chegando devagarinho, levando nas mãos as alianças, ao som de "Julia", dos Beatles... Diferente foi também a entrada dos noivos. Ele, abraçado com sua mãe; e ela, de braço dado com seus pais, um de cada lado... Diferente foi até a sessão de fotos, quando subitamente, todos os convidados foram chamados para tirar uma foto junto com os noivos... Diferente foram os noivos que, antes da noite de núpcias, resolveram comemorar no show do "The Baggios", vestidos de noivos, e lá subiram ao palco onde cantaram e dançaram... Enfim, foi um casamento diferente, do jeito que eu gosto. Mas cheio de emoção e felicidade. E é ainda cheia de emoção, que quero desejar aos noivos uma longa e feliz vida a dois. Sei que nem todos os dias serão fáceis e felizes. Às vezes, o caminho é por demais tortuoso e cheio de buracos. Mas quando a escolha é pra valer, todo o universo conspira a nosso favor: aparecem vestidos, sapatos e muitas, muitas mãos para nos ajudar a carregar o que, sozinhos, não seríamos capazes... Mas quando conseguimos ultrapassar a “estradinha tortuosa”, acreditem, todo o resto vale a pena. Assim foi comigo, assim também será com vocês. Que Deus os abençoe!
(Lilian Rocha – 25.10.15)
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