top of page

MINHAS CRIANÇAS DE ONTEM

  • Foto do escritor: Lilian Rocha
    Lilian Rocha
  • 17 de nov. de 2017
  • 3 min de leitura

Tem certos dias em que acordamos dispostos a colocar em ordem algumas coisas da casa. É o caso de alguns armários e gavetas que só a gente sabe arrumar.

Pois bem, aproveitando as férias da empregada, entreguei-me a essa árdua tarefa de limpar e arrumar lugares há muito esquecidos por mim. E qual não foi minha surpresa quando encontrei, dentro de um velho envelope, inúmeras fotos que deveriam estar nos álbuns, mas que, por qualquer motivo, ficaram ali, me esperando. Além das fotos, alguns bilhetinhos, escritos com letra de criança, também haviam sido cuidadosamente dobrados e guardados dentro do mesmo envelope.

Imediatamente, fui abrindo e relendo os bilhetinhos, um a um: “Mãe, me acorde cedo amanhã!”; “Mamãe, mesmo que às vezes não pareça, eu te amo muito”; “Sabia que você é a melhor mãe do mundo?”

Depois fui olhando as fotos, tentando me lembrar da ocasião em que foram tiradas, mas tudo em vão. “Escreva sempre atrás das fotos o local, a data e as pessoas, pois com o tempo a gente acaba esquecendo...” – dizia minha mãe. Um conselho que sempre me pareceu desnecessário, pois a gente pensa que nunca vai esquecer. Mas ela estava certa. Outros passeios acontecem, alguns personagens das fotos se perdem de nós e acaba se tornando quase impossível reconstituir com detalhes o que algumas fotos quiseram registrar.

Foi isso que senti ao ver todas aquelas fotos. Já não me lembrava mais das datas dos passeios que fizemos e a idade das minhas crianças me confundia a toda hora.

Mas essa súbita volta ao passado me deixou triste e melancólica, ao ver como o tempo passou depressa! Meus cinco bebês cresceram tão rapidamente que eu nem me dei conta. Meu filho mais velho, hoje com 30 anos e o rosto todo barbudo, já nem se parece com a criança que vejo na foto. Da criança, só restou o abraço carinhoso, que continua o mesmo e as lembranças dele que fazem eco nas minhas. O outro, com 24 anos, também cresceu muito depressa, sem que eu tivesse tempo pra me acostumar com a ideia. E por vezes ainda me assusta quando me abraça por trás e me dá um bom dia, falando grosso, com voz de homem. E o mais novo, que ainda ontem usava fraldas e insistia em dormir na nossa cama, hoje já está com 21 e quase não o encontro, pois passa a maior do seu tempo entre o trabalho e a faculdade.

Minhas filhas também, há muito que já saíram do casulo e se transformaram em duas lindas borboletas. E tão logo se viram com asas, levantaram voo e foram para bem longe de mim, conhecer outros mundos, outras histórias. Uma encontrou o caminho de volta, mas a mais nova continua voando alto, em busca do seu sonho de ser atriz... E eu voo junto com ela, pois tenho certeza de que ela vai conseguir.

Com uma pontinha de tristeza, percebo que o tempo não espera por ninguém e de nada adianta olhá-los hoje tentando reencontrar minhas crianças de ontem. Absortos no emprego e nas preocupações do dia-a-dia, muitas vezes calamos o que lhes havíamos ensaiado dizer ou deixamos de lhes fazer um carinho que só naquele momento teria sentido!...

Pensando nisso, já que não posso fazer voltar o tempo, quero imortalizá-Ias nessa crônica em forma de saudade e deixar-lhes também um recadinho: "Sabiam que vocês são os melhores filhos do mundo?"

(Lilian Rocha - 5.2.15)


Comentarios


RECENT POSTS
SEARCH BY TAGS
ARCHIVE
bottom of page