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NASCE UMA ESTRELA

  • Foto do escritor: Lilian Rocha
    Lilian Rocha
  • 17 de nov. de 2017
  • 2 min de leitura

Uma das minhas lições preferidas na infância era astronomia. Eram apenas noções, mas me fascinava profundamente saber que nós morávamos num planeta chamado Terra, sem luz própria, que dependia inteiramente do Sol, uma estrela luminosa. Estranho descobrir que aquela coisa imensa era uma estrela, quando as estrelas de quase todos os desenhos não passavam de alguns rabisquinhos... E assim fui vivendo, como um planeta que dependia daquela grande estrela para viver.

Tempos depois, a vida me ensinou que existiam outros tipos de estrelas. Estrelas que brilham em palcos, estrelas que brilham na vida, estrelas que vêm e vão, que nos incandeiam com o seu brilho, que nos confortam com o seu calor... E passei a perceber que o universo era algo muito mais concreto do que nos ensinavam os livros...

Tive o privilégio de conviver com uma dessas estrelas. Era ainda um daqueles rabisquinhos quando a conheci, criança ainda. Mas havia um brilho próprio em seus olhos. Brilho de estrela, de quem já nasceu luminosa. Eu não estava enganada. Meu rabisquinho haveria de se tornar uma estrela linda e, por isso, não tardou a ser convidada para fazer o papel principal de uma estranha história que começava a ser escrita naquele momento...

E como um mero planeta, busquei um lugarzinho para vê-la brilhar. Lembro-me de cada gesto, de cada palavra pronunciada em cima daquele palco e, por várias vezes, levantei-me para aplaudi-la de pé, orgulhosa de sua atuação. Outras vezes, fui obrigada a desviar meu olhar do dela, envergonhada de minha fragilidade, de minha pequenez diante dela, pois quem é capaz de enfrentar o brilho das estrelas?

Eu não sei bem o que me chamava mais à atenção, se sua coragem ou se sua serenidade. Não saberia dizer onde começava uma e onde terminava a outra, de tão parecidas que eram. Era esse o seu brilho...

Estrelas não sentem medo da escuridão. Foram criadas para iluminar aqueles pequenos espaços do nosso coração que, por não terem luz própria, ficam povoados de medo e solidão. Estrelas não choram. Aquecem nossa alma com o seu calor. Estrelas não têm tempo para perguntas. Vêm ao mundo para dar respostas a todas as nossas dúvidas e inquietações...

Assim era a minha estrela Thaís. Alguém que passou suavemente pela minha vida, mas que deixou um rastro luminoso de coragem, de paz e de fé . Sei que se quiser vê-la novamente, não posso conservar meus olhos baixos, embotados de lágrimas. Terei que repetir o gesto que tantas vezes eu a vi fazer: levantar os olhos para o alto. E bem no alto, ali onde vivem todas as estrelas, tenho certeza de que a verei brilhar outra vez...

(Lilian Rocha)

(Em homenagem à minha querida sobrinha Thaís, que se foi em 2003, vítima de câncer de mama. Hoje ela estaria completando 40 anos.)


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