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O MUSEU DA PAZ

  • Foto do escritor: Lilian Rocha
    Lilian Rocha
  • 17 de nov. de 2017
  • 4 min de leitura

Depois de 10 dias em Bogotá, estou de volta à minha terra, cheia de novas histórias pra contar. Talvez a mais incrível delas tenha sido a nossa visita ao "Museo de La Paz". O convite nos foi feito por Ivan Oravek, o organizador do evento IdiomArte, o mesmo que me convidou para dar uma palestra sobre "Os desafios de ensinar diferente". Após a minha apresentação, ele se aproximou e, gentilmente, me agradeceu, dizendo que havia ficado impressionado com a minha criatividade e, sobretudo, com a maneira tão especial com que eu era tratada pelos meus leitores do Facebook. Por causa disso, ele queria me convidar para jantar na casa de uma pessoa "igualmente inspiradora", chamada Pedro Medina, e conhecer o Museu da Paz, criado por ele. Confesso que não esperava que minhas palavras tivessem tanta repercussão assim, nem tampouco esperava aquele convite tão gentil! Aceitei, de pronto, e nos dias que se seguiram pus-me a procurar mais informações sobre o tal anfitrião que nos receberia em sua casa.

Descobri, então, que ele havia se formado em Relações Internacionais na Universidade da Virgínia - US e era um empresário muito bem sucedido. Foi ele quem trouxe a Renault e o Mc Donald´s para a Colômbia. Também ocupou muitos outros cargos importantes e graças ao seu empreendedorismo, foi reconhecido pelo presidente da Colômbia como "Colombiano Exemplar", na categoria Economia e Negócios. Atualmente, ele é presidente da Fundação criada por ele, chamada "Yo creo en Colombia", e presta assessorias, dá dezenas de palestras (a cada uma paga, uma é de graça) e escreve para nada mais, nada menos, que 12 jornais e revistas! Enfim, o homem era um fenômeno, o maior empreendedor de estudantes universitários da Colômbia e eu havia sido convidada pra jantar na casa dele! Passei dois dias preocupada, só pensando nisso...

Finalmente, chegou o grande dia. Cada um dos convidados deveria levar algo pronto para o jantar ou para ser preparado lá. Optamos por uma lasanha pronta e lá fomos nós. Quando chegamos ao prédio dele, já tinham uns 8 estudantes que também haviam sido convidados para o jantar. Na porta do apartamento, uma plaquinha escrita "Museo de La Paz". "Então o tal Museu funcionava dentro do apartamento dele? Como assim?" - pensei, espantada.

Quem abriu a porta foi Ivan, pois Pedro ainda não havia chegado de Cartagena, onde havia ido para mais uma de suas milhares de palestras. Mas foi só o tempo de entrarmos para logo em seguida, ouvirmos a campainha tocando...

E assim que ele entrou, eu percebi que aquela haveria de ser uma das noites mais incríveis da minha vida! Em vez de um empresário sério, vestido de terno e gravata, entrou um homem alegre e cheio de vida, carregando um monte de coisinhas que havia trazido de Cartagena e falando pelos cotovelos... Colocou no rosto uns óculos de aros enormes para nos fazer rir e depois de se apresentar, quis ouvir a cada um de nós, quem éramos e o que fazíamos. Quando Ivan disse que fora eu a palestrante do último evento e da repercussão que eu causei, ele me olhou e disse em bom espanhol: "¿Qué es eso detrás de tu oreja?" E se aproximando da minha orelha, fez que tirava de trás dela uma minúscula pomba branca e me deu. Naquele instante, não tive mais dúvidas: aquele homem era mesmo especial!! Em seguida, o grupo se dividiu. Os que sabiam cozinhar ficaram na cozinha preparando o jantar, enquanto os outros foram convidados para acompanhá-lo num tour pelo museu.

Toda a filosofia de vida dele hoje se baseia em 4 importantes pontos: inspiração, inovação, transformação e alimentação, segundo ele, os 4 desafios que ele tem que enfrentar a cada dia para se sentir em paz. E nossa viagem filosófica começou pela "inspiração". Mostrando-nos alguns objetos da casa, a maioria lembranças de viagem, tais como pedras, plantas, raízes e conchas, ele nos explicava a importância da "inspiração", de como alguns objetos podem nos inspirar e do quanto é bom também sermos "inspiradores" na vida das pessoas, pois todos nós temos o que dar, temos a acrescentar na vida de alguém...

No centro da sala, aprendemos sobre "inovação", sobre a necessidade que temos de inovar, de abrir novos caminhos, de ousar ir contra a corrente, sempre em busca do bem e da felicidade...

Em seguida, aprendemos o significado da "transformação", de como podemos transformar os nossos recursos naturais. Como exemplo, ele nos levou até o quarto e nos mostrou sua cama, cujas cabeceiras eram feitas de duas enormes raízes. Raízes que o 'inspiraram' a 'inovar' e ''transformar' uma coisa aparentemente comum numa cama única no mundo...

No banheiro, batizado por ele de 'enoteca', vimos pilhas de livros sobre a pia. A cada dia, ele abre um livro, rouba uma frase qualquer e depois a escreve na parede do banheiro para lhe servir de 'inspiração' naquele dia...

Após o tour, chegou a vez de experimentarmos a quarta e última base da sua filosofia: a 'alimentação'. Mas como iriam caber 16 pessoas num espaço tão pequeno da sala? Novamente ele 'inovou' e estirou no chão uma esteira de palha que logo se 'transformou' numa imensa mesa. As almofadas se 'transformaram' em cadeiras e nosso jantar foi servido ali mesmo. E enquanto comíamos juntos, aprendíamos sobre a necessidade de 'compartilhar' uns com os outros os alimentos, as experiências, os sentimentos e as emoções. Cada um de nós foi convidado a dizer em voz alta o que mais lhe fazia feliz e foi bom poder ouvir isso de nossas próprias bocas, esquecidos que já estamos de que é preciso muito pouco para sermos felizes...

Foi realmente uma noite memorável. "Inspiradora", "inovadora" e "transformadora", que 'alimentou' nosso espírito de alegria, de harmonia e, sobretudo, de paz. Assim é Pedro Medina, o homem que "acredita na Colômbia". Um homem que já experimentou o outro lado da vida, o topo de uma carreira bem sucedida, com a qual a maioria das pessoas sonha, e no entanto, não hesitou em largar tudo isso para se dedicar inteiramente a uma vida mais simples, livre desse consumo exagerado, onde as pessoas valem mais do que as coisas, onde a simplicidade é sua principal riqueza e onde a paz do mundo não é apenas uma utopia e sim, responsabilidade de cada um de nós. De cada um que se dispõe a dar um pouco mais de si para os outros... Enfim, um homem inspirador!

(Lilian Rocha - 25.2.16) https://www.youtube.com/watch?v=UqzXeFWDKK4


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