RETICÊNCIAS...
- Lilian Rocha
- 17 de nov. de 2017
- 2 min de leitura
Adoro “reticências”. De todos, é o sinal de pontuação mais sutil, mais charmoso, mais envolvente. Elas falam sem dizer, deixando no ar um delicioso ar de “quero mais”. Por isso que abuso das “reticências”. Deixo subentendido o que não quero dizer, esperando que o outro entenda o que está por detrás daqueles minúsculos “três pontinhos”... É quase um convite para que o leitor preste mais atenção ao que não é óbvio, ao que não foi escrito, ao que ficou sem dizer.
“Reticências” são mais delicadas, mais femininas, mais cheias de segredos, eu diria. Diferentes dos “pontos”, sempre muito objetivos, ríspidos e intransitivos, não suportam uma conversa prolongada...
“Reticências” amam as “vírgulas”, aquelas pequeninas pausas que damos durante uma conversa, só pra engolir um pouquinho de água e depois continuar. As vírgulas não têm pressa de acabar nada. Estão sempre querendo que a história continue. E até quando uma “vírgula” se encontra com um “ponto” mal-humorado no meio de uma frase, ela dá logo um jeitinho de desmanchar aquela objetividade toda e transformá-lo num simpático “ponto e vírgula”, disposto a continuar aquela mesma conversa que a vírgula estava lhe contando...
Também adoro as exclamações! São tão cheias de sensibilidade, estão sempre prestando atenção aos mínimos detalhes e se admirando com tudo! São as exclamações que transformam um simples “ponto” em algo extraordinário. Tão bom se a gente fosse como elas, capazes de perceber o “incomum” nas coisas mais simples da vida!...
Já as “interrogações” são mais curiosas, estão sempre questionando o porquê dos fatos e nenhuma resposta ou explicação que lhes dermos vai conseguir satisfazer esse desejo incontrolável de buscar respostas nas perguntas sem respostas... E se algum “ponto”, porventura, tentar encerrar aquele assunto, imediatamente elas se posicionam diante dele e perguntam, com aquele ar desconfiado: "Mas por quê?"
E o que dizer dos “parênteses”? São os nossos melhores confidentes! Parecem caixinhas onde a gente vai depositando tudo o que nem sempre pode ser dito numa frase: lembranças, segredos, apreensões, risos, lágrimas... (ah! e como eles enfeitam uma frase!)
Parece que o que todos os sinais de pontuação têm em comum é justamente a falta de simpatia pelo “ponto final”. Por isso, eles estão sempre tentando prolongar a história com suas pausas, suas perguntas, suas exclamações, como se não quisessem chegar ao fim.
Confesso que eu também não gosto do “ponto final”. Não gosto de ver as histórias chegando ao fim, gosto de imaginar que elas continuam em um próximo capítulo, em um próximo volume... E como as interrogações, também sofro com as perguntas sem respostas e insisto em colocar mais uma vírgula na história, para que ela nunca chegue ao fim.
Principalmente quando é uma história da qual fazemos parte e cujo personagem principal é alguém que a gente ama mais que tudo nesse mundo... Por isso, vou fugir do ponto final e terminar esta história do jeito que eu mais gosto: com reticências...
(Lilian Rocha - 09.04.17)
“As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua, por conta própria, o seu caminho.” (Mário Quintana)

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