TUDO COMO DANTES NO QUARTEL DE ABRANTES...
- Lilian Rocha
- 17 de nov. de 2017
- 4 min de leitura
Já disse aqui que nunca gostei de política. Porque pra gostar, a gente tem que entender e pra entender, a gente tem que ler, ficar bem informada sobre tudo e depois discutir com as pessoas sobre o assunto. E é exatamente aí que mora o perigo, no tal verbo “discutir”.
Ora, todo mundo sabe que há 3 coisas que não se discutem jamais: futebol, religião e política. Não adianta insistir. Ninguém vai mudar de time ou de crença por minha causa. Se por acaso isso acontecesse, eu seria a primeira a me decepcionar, pois ficaria claro que aquela pessoa não tinha convicção suficiente sobre suas crenças. E como eu não gosto de pessoas fracas, que mudam facilmente ‘de lado’, prefiro fingir que não existe política. Assim, ficamos todos amigos para sempre.
Política também tem uma ‘particularidade’ muito interessante. Quase todo mundo que defende algum partido, com muita veemência, com toda certeza está se beneficiando dele: ou é vinculado ao partido, ou é funcionário público, ou tem parente empregado no governo, ou o governo é ou pode vir a se tornar para ele um “cliente” em potencial. Ora, querer que uma pessoa mude de lado, nessas condições, seria o mesmo que pedir a ele para ‘cuspir no prato que está comendo’. Ou seja, não seria justo. Por isso, prefiro fingir que não existe política. Assim, continuaremos amigos para sempre.
Estar sempre ‘bem informado’, pra mim, também nunca se constituiu uma vantagem, uma vez que exige que tenhamos, acima de tudo, ‘sangue de barata’. Porque ter conhecimento de alguma coisa errada e não fazer nada para mudar é o mesmo que compactuar com ela. Não, decididamente é melhor não saber o que está acontecendo. Pelo menos, o nosso estômago não embrulha.
E foi assim que sempre escolhi viver. Desinformada, num mundo à parte. De política, sei apenas o nome do presidente, do governador e do prefeito.
Acontece que algumas notícias, por serem tão bombásticas, acabam chegando aos meus ouvidos, mesmo sem eu querer... Como aquele gigantesco cheque sem fundos passado pelo ministro Ângelo Calmon de Sá, durante o governo Geisel... Foram 10 casos de corrupção em 6 anos de governo.
Ou o famoso “Caso Ibrahim Abi-Ackel”, ministro da Justiça do governo Figueiredo, acusado de contrabando de pedras preciosas... Foram 11 casos de corrupção em 6 anos de governo.
Ou aquele outro, conhecido como “CPI da Corrupção”, que acusava o Governo Sarney por um grande número de concessões de rádios e TVS em troca de cargos e apoio a ele próprio... Foram 6 casos de corrupção em 6 anos de governo.
Impossível não me lembrar também do gigantesco esquema de corrupção, que ficou conhecido como “Esquema PC”, liderado por PC Farias, que resultou no impeachment de Fernando Collor... Foram 19 casos de corrupção em 2 anos de governo.
Dessa vez o Brasil inteiro resolveu se mexer e destituiu o presidente. Até eu, que não gosto de política, aplaudi a cena...
Em seu lugar, assumiu o vice Itamar Franco, que governou por 3 anos apenas e também não conseguiu explicar os 32 casos de corrupção em seu breve governo, a exemplo do “Caso Castor de Andrade”, que envolveu policiais, delegados, políticos e jornalistas numa grande rede de corrupção ligada ao jogo do bicho... Foram 32 casos em apenas 3 anos de governo.
Lembro também do escândalo da “Pasta Rosa”, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, que mostrava uma contribuição de 2 milhões de dólares do Banco Econômico para a campanha de 25 candidatos, dentre eles o poderoso Antônio Carlos Magalhães que embolsou, sozinho, mais de um milhão... Foram 44 casos de corrupção em 8 anos de governo.
Em todos esses escândalos, porém, um homem permanecia gritando, denunciando e clamando por mudanças. Foi ele, por exemplo, uma das principais lideranças da campanha das “Diretas-Já”, que reivindicava a escolha direta do Presidente da República e foi ele, também, quem liderou uma mobilização nacional contra a corrupção, que resultou, justamente, no impeachment de Collor.
Ele tentou três vezes a Presidência da República, mas só na quarta vez conseguiu ser eleito. Pela primeira vez, na História do Brasil, um nordestino pobre e analfabeto chegava ao topo do poder. Até eu, que não gosto de política, aplaudi a cena...
Aplaudi e acreditei nas mudanças. Acreditei que ele ia ser diferente de todos os outros e que ia varrer a corrupção do país...
Mas infelizmente, algumas notícias, por serem tão bombásticas, acabaram chegando novamente aos meus ouvidos, mesmo sem eu querer... Como por exemplo, o “Escândalo dos Bingos”, o “Escândalo dos Correios”, o “Mensalão”, dinheiro escondido na cueca, dinheiro saindo pelo ladrão... Foram 101 casos de corrupção em apenas 4 anos de governo.
Mas tudo ficou por isso mesmo. E ele ganhou de presente mais 4 anos. E como não podia ficar mais 4, ele ajudou a eleger sua sucessora. E a reelegê-la também. Apesar do “Escândalo dos Correios”, da “Petrobrás”, da volta da inflação, do caos na Saúde, na Segurança Pública, etc, etc, etc.
Parabéns, minha senhora, por ter dividido o meu país, por ter jogado pobres contra ricos e os nordestinos contra o resto do país. Sou nordestina, não simpatizo com nenhum partido político, não tenho emprego e nem dependo da política para sobreviver, graças a Deus! Isso me proporciona uma liberdade maravilhosa para pensar, escrever e me manifestar.
Desde que tive conhecimento daquela história do Mensalão, confesso que perdi novamente a esperança neste país. Mantive, por alguns anos, a foto de Obama na minha sala de trabalho, desejosa de um dia ter também um presidente do qual eu me orgulhasse. Infelizmente meu país vai continuar como sempre esteve: escandalosamente corrupto, me fazendo ter vergonha dele.
Mas hoje amanheci muito feliz. Descobri que começa hoje uma nova reprise de novela no Canal Viva... Oba! :)
(Lilian Rocha – 27.10.14)

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